A destilaria Heaven Hill
nasceu em 1934, depois da Lei Seca e durante a depressão nos EUA. Um
grupo de produtores de whiskey de Boston conseguiu apoio financeiro
com os irmãos Shapira, e a destilaria Old Heaven Hill Springs foi
construída. A família Shapira simplesmente financiaria o projeto,
mas vários anos depois se tornou o único proprietário do
empreendimento.
Após a Segunda Guerra
Mundial, a empresa passou a criar diferentes edições do whiskey, e
o negócio prosperou. Em 1986, assim como outras destilarias, a
Heaven Hill passou a se interessar por bourbons de pequeno lote. O
primeiro lançamento foi o Elijah Craig 12 Anos, em homenagem ao
ministro da igreja Batista e agricultor que já destilava no fim do
século XVIII.
O pastor batista Elijah
Craig (1743-1808) ficou conhecido como o pai do bourbon. Tem a fama
de ser o criador do método de usar barris queimados para guardar e
maturar bebidas. De acordo com o folclore do whiskey, ele incentivava
a prática de usar barris crestados na maturação. Uma descoberta
casual depois de um incêndio, o que levou a um estilo característico
que contribuiu para definir o bourbon.
Não existe nenhuma prova
de que foi o primeiro a fazer bourbon, mas a associação entre um
religioso e o whiskey foi vista como ferramenta útil na resistência
aos militantes adversários do álcool. Essa edição que o
homenageia é produzida com não mais que 100 barris e pode ser
considerada o primeiro bourbon de pequeno lote.
O que pude perceber:
Características: cor
âmbar escuro, encorpado.
Aroma: madeira, baunilha
e caramelo dá para sentir de longe, sem precisar aproximar o copo do
nariz. Bala de leite, adocicado, possui um certo frutado, algo como abacaxi, manteiga, pasta de amendoim. Sensação
de algo bem oleoso. No fundo dá para sentir gramíneas, chocolate
branco e algumas notas condimentadas trazendo uma pimenta. Com um
pouco de água realçam os aromas de madeira, baunilha e caramelo,
com chocolate branco presente. Fica um whiskey mais aveludado,
equilibrado, redondo. Notas frutadas, mel e agora um toque sutil de
cereais.
Paladar: madeira,
baunilha, chocolate, mel, depois vai esquentando a boca com
especiarias, apimentado, mais um pouco de baunilha e finaliza com um
toque herbal. A finalização é longa, demora bastante tempo na
boca. Dá para sentir um frutado de maçãs, abacaxi, pera, o
adocicado do caramelo e da baunilha, sem ser enjoativo. Depois,
picância. Fica um retro-gosto parecido com rapadura, paçoquita.
Lembram da pasta de amendoim? Com a adição de um pouco de água,
mel, madeira, caramelo, frutas, abacaxi, maçã, rapadura e depois
vem a picância que desta vez foi um pouco mais pronunciada, bem
forte mesmo, deixando a boca com uma sensação de dormência. Nas
especiarias tem algo de gengibre, canela, noz-moscada, o que acaba
dando, de certa forma, um equilíbrio em contraste com o adocicado da
bebida. A finalização é longa e seca.
Eu o achei um belo
bourbon, apesar de deixar a boca bastante dormente na sua
finalização. A picância logo passa, mas a sensação é de que a
boca fora anestesiada, da mesma forma quando vamos ao dentista. Esta,
apesar de um tanto quanto absurda, é uma boa comparação.
Excelente opção para
fugir dos bourbons tradicionalmente vendidos, carregados no milho e
enjoativamente doces. Este exemplar possui uma proporção
considerável de centeio, o que também explica a sua picância.
Os 12 anos de
envelhecimento também contribuem sobremaneira para o caráter deste
whiskey. Dificilmente encontraremos bourbons maturados por muito
tempo, uma vez que o clima dos Estados Unidos faz com que a bebida
atinja a maturação mais cedo. Este tempo a mais nos barris fez com
que esta bebida atingisse outro patamar na degustação. Nem mesmo o
álcool, que neste caso é de 47% ABV, é perceptível.
O tempo fez também
acentuar as características do centeio, contribuindo para formar o
corpo e o caráter do destilado.
Resumindo, um ótimo
bourbon para ser apreciado aos poucos, talvez até acrescentando um
pouco de água, para deixá-lo mais redondo, apesar da água ter
acentuado sua picância. Ótima pedida também para acompanhar um
charuto.
Elijah Craig 12 Anos
Bourbon Teor Alc: 47%
Um bourbon clássico, com
aromas doces e maduros de caramelo, baunilha, tons picantes e mel,
além de um pouco de menta. Rico, encorpado e arredondado no suave
paladar, com caramelo, malte, milho, centeio e uma ponta de fumaça.
Carvalho doce, anis e baunilha dominam o final.
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