A destilaria Ardbeg foi
fundada em 1815 por John McDougall em um local que já foi um ponto
de aportamento para contrabandistas ao longo do século 18. Fica numa
angra remota na costa sudeste de Islay.
Em 1853, Alexander, o
filho de John que estava no comando da destilaria, morreu, mas suas
irmãs Margaret e Flora assumiram o negócio, junto com Colin Hay. Em
1886, a Ardbeg empregava 60 pessoas num vilarejo com 200 moradores.
Após a morte das irmãs, Colin Hay e Alexander Buchanan tornaram-se
os proprietários.
A destilaria foi comprada
pela Hiram Walker e pela Distillers Company, numa parceria comercial,
mas mudou de donos novamente em 1987, quando a Allied Lyons comprou a
Hiram Walker. Os anos seguintes não foram mais fáceis para a
empresa: fechou em 1981, mas reabriu por períodos curtos até 1996,
quando fechou de vez e foi posta à venda pela Allied Distillers.
O grupo comprador,
Glenmorangie, sabia que tinha adquirido uma destilaria com potencial
para fazer um dos single malts defumados com turfa mais famosos do
mundo, mas os prédios e os equipamentos estavam em condições
precárias.
Apesar de fazer um
investimento pesado para modernizar suas instalações, a falta de
produção dos primeiros anos causou problemas. Entretanto, quando as
lacunas do estoque desapareceram, a Ardbeg renasceu das cinzas. O
lançamento do engarrafamento padrão 10 anos, que teve aceitação
crescente entre os apreciadores de whisky, levou a destilaria a ser
novamente aclamada pelo mundo.
O que pude perceber:
Características: cor
palha claro, encorpado.
Aroma: fogueira, fumaça,
alcatrão, tabaco. A turfa é bem evidente e existe algo de
medicinal, um salgado, talvez pela influência marítima. Driblada a
turfa, vem frutas amadurecidas, um adocicado de baunilha e um
amadeirado dos barris de bourbon. Com o acréscimo de um pouco de
água sobressai o frutado, o esfumaçado diminui um pouco. Maçã e
pera são bem evidentes. Fica com um bouquet mais suavizado e
agradável, com um pouco de baunilha.
Paladar: madeira,
abacaxi, um pouco de amêndoas, capim limão com um toque cítrico,
um certo adocicado também, tudo isso envolto em fumaça de turfa,
finalizando de forma picante juntamente com a fumaça. Nada de álcool
tanto no aroma quanto no paladar, apesar de seus 46% ABV. Lembra
bastante frutas maduras brancas e suculentas. Também dá para notar
no paladar que trata-se de um whisky jovem ainda, faltando um
pouquinho para sua maturação ideal. A adição de um pouco de água
deixa o whisky mais doce, a baunilha mais evidente, as frutas
amadurecidas agora se mesclam com frutas secas e um pouco de
amêndoas. Há uma certa picância, de especiarias e, englobando tudo
isso, a fumaça.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgt6e5hCNwsnhjTdSsnw_mgguxWubWBR7Wt34abNSjHn4aW5btQjiYgm-Svidj5-XOKuojVDsU6C2Q82FC1_Dm0SVdoITFQ9KumDXauSdwyPihD3yFGq2-YAA2y3DzLsxIM0YQBpHpJAEA/s400/ardbeg-ten-year-old-single-malt-scotch-whisky-islay-scotland-10463493.jpg)
A origem da água de
Ardbeg, que passa pela turfa, exerce uma influência marcante nos
sabores terrosos e betuminosos do whisky. Esta água, suave e sem
sais, flui do Loch Uigeadail através de rochas, musgo e turfa até a
destilaria. Dois grandes alambiques destilam o whisky que é maturado
em tonéis de carvalho americanos previamente usados para bourbon.
Whisky divisor de águas
entre quem gosta de turfa e quem não gosta. Quer perceber claramente
o que é turfa, whisky esfumaçado e as características que marcaram
a fama dos whiskies de Islay? Este é o exemplar a ser apreciado.
Lembro muito bem que,
quando comecei a enveredar pelo mundo do whisky, foi justamente
quando Jim Murray havia acabado de proclamar o Ardbeg Ten como o
melhor whisky do mundo, isso acho que foi por volta de 2008. A procura por um
exemplar desta garrafa cresceu enormemente e aqui no Brasil não
havia onde encontrá-la. Quando finalmente tive a oportunidade de
experimentar, quando participei de uma degustação, a primeira
palavra que me veio à mente foi: “cinzeiro”. Não havia
absolutamente nada para detectar além disso. Fumaça, fogueira,
bituca de cigarro.
Hoje, com um pouco mais
de rodagem, já há a possibilidade de tirar a fumaça inicial e ir
um pouco além. Percebe-se então que esta bebida não se resume só
a cinzas.
Não sei se comecei a
acostumar com os whiskies turfados, tenho experimentado vários
ultimamente, mas o fato é que comecei a pegar gosto pela fumaça, de
forma que neste Ardbeg ela já não incomoda mais, embora ele seja o
whisky que mais se nota a sua presença. A contrario sensu, achei
bem agradável de beber.
Indico para quem quer encarar de vez a turfa pesada. Possui 55 ppm de fenóis, não usa corante e não é filtrado à frio.
Ardbeg 10 Anos
Single Malt: Islay Teor
Alc 46%
Este malte não filtrado
a frio possui notas de creosoto, alcatrão e peixe defumado no nariz.
Qualquer doçura na língua desaparece rapidamente, dando lugar a um
final defumado.