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sábado, 19 de maio de 2018

Desvendando Nº 76: Hibiki 12 Anos



Para comemorar o World Whisky Day de 2018 o review de hoje será de um whisky que eu considero um dos melhores blends que já bebi. Os escoceses que me perdoem, mas trata-se de um whisky japonês.

O whisky japonês, como o scotch, desenvolveu-se nos blends. Mesmo hoje, com um boom no whisky de malte entre a nova geração, são os blends que respondem pela maior parte das vendas. Embora os mecanismos do blending sejam os mesmos da Escócia, o Japão, com seu clima e sua cultura, ditou qual deveria ser o estilo de seus blends.

A fortuna de Shinjiro Torii, dono da Suntory, foi construída sobre whiskies blended, que usam como base malts de Yamazaki e Hakushu. Blends de primeira linha foram desenvolvidos e entre eles encontra-se o Hibiki. Esta linha foi lançada em 1989 para comemorar o 90º aniversário da empresa e no início dos anos 2000 contou com um novo integrante, uma variação de 12 anos que contém whiskies filtrados com carvão de bambu e um malte que foi envelhecido em barris de licor de ameixa.


O que pude perceber:
Características: âmbar, médio corpo.
Aroma: bastante frutado, com laranjas, torta de maçã, geléia de frutas e ameixas. Abacaxi, framboesa, banana. Dá para sentir um mel, algo floral e canela. Com um pouco de água fica bastante fresco, com menta e chocolate. Especiarias, algo como noz-moscada. O frutado continua dando o tom, agora aparecendo manga, ameixa, abacaxi e um fundinho de limão.
Paladar: sedoso, cereais, amadeirado. Leve, suave e doce, com um pouco de baunilha. Acrescentando um pouco de água continua bastante frutado e cítrico, com um pouco de baunilha e um floral. Surge também um pêssego e uma leve picância. Equilibra bem as especiarias com maçã e cereais. Possui uma finalização longa e doce.


É um blended composto por whiskies envelhecidos em diversos tipos de barris, ex-bourbon, ex-xerez, mizunara (carvalho japonês) e inclui ainda barris de licor de ameixa do tipo umeshu, uma ameixa japonesa. O que o torna um produto único. Além disso, possui uma curiosidade: assim como é feito com o Jack Daniel's, o Hibiki também é filtrado em carvão, só que de bambu, o que dá uma suavidade maior ao whisky.

A garrafa já é um charme à parte, mais parecendo um frasco de perfume. Multifacetada, possui 24 lados representando as 24 estações do antigo calendário japonês e sua ressonância, “hibiki” em japonês.

Blended que, quando disponível no Brasil, poderia-se dizer que era um dos melhores e um dos meus favoritos. Seu sabor é incrível e em nada lembra os blends tradicionais por que não traz aquele gosto de whiskies de grãos característico. Também não apresenta nada de álcool, tanto no aroma quanto no paladar. Um exemplar fantástico.

Incluindo maltes das destilarias Hakushu e Yamazaki e grãos da destilaria Chita, infelizmente, por falta de estoques destes whiskies, foi descontinuado. Ainda é possível achar uma ou outra garrafa de Hibiki 12 anos, a preços exorbitantes. Em seu lugar, encontra-se mais facilmente e com preço mais acessível, o Hibiki Japanese Harmony.




Hibiki 12 Anos

Blended Japão Teor Alc 43%

Olfato similar à ameixa, ao abacaxi e ao limão. Depois ao fudge e ao carvalho fresco. É doce e grosso na língua, com final similar ao mentol.






segunda-feira, 27 de junho de 2016

Suntory anuncia o lançamento do blended Suntory Toki

O Japão é uma terra de contrastes e paradoxos: sua cultura detém uma profunda reverência por ascendência e herança, mas também um fascínio com o futuro. Seu povo respeita as tradições, mas constantemente reinventam e reinterpretam o mundo à sua volta. A Suntory, casa do fundador do Whisky japonês, apresenta Suntory Toki. Inspirado pela reinvenção, Toki expressa tanto o que é autêntico quanto o que será o futuro.


Toki, que será lançado exclusivamente nos EUA este mês e no Canadá em julho por um preço sugerido de US$ 39,99, é uma mistura de whiskies cuidadosamente selecionados da Suntory, que englobam as destilarias Hakushu, Yamazaki e Chita. Tradicionalmente trabalhado de acordo com a filosofia e a arte do blending da Suntory, a expressão tráz as características primordiais da casa: requinte, equilíbrio, harmonia e unidade.

Suntory Toki, além de respeitar a tradição, também desafia a convenção de whisky da Suntory repensando a hierarquia de seus componentes. Os blends da Suntory costumam usar maltes da Yamazaki como seu componente chave. Inspirado pelos espíritos de inovação foi dada uma nova abordagem para o whisky Toki, selecionando o singular Hakushu em barris de carvalho branco americano, com sua frescura única, suavidade e espetaculares notas de maçã verde, como um dos dois pilares da mistura. Para complementar a seleção, foi escolhido o whisky de grão Chita do tipo pesado como segundo pilar da mistura, adicionando um sabor limpo, com notas de doçura e baunilha.

Ao parear estes whiskies aparentemente diferentes, mas profundamente complementares, a Suntory revogou a antiga relação entre malte e grão e criou uma mistura que é ao mesmo tempo inovadora e atemporal. Tradicionalmente, nos blends Suntory, whiskies de grãos têm desempenhado apenas um papel de apoio, agindo como um caldo para acentuar maltes chave. Mas a sofisticação incomparável e grande variedade de whiskies de grãos produzidos na destilaria Chita levou a Suntory a repensar esse papel. Esses whiskies, com o seu requintado equilíbrio e complexidade, sutileza e refinamento, servem não como um andaime para o malte heróico subir, mas como verdadeiros heróis em seu próprio direito.

Este encontro único entre o malte Hakushu e o whisky de grãos Chita dá ao Suntory Toki seu sabor sedoso e caráter vívido. Além disso, para dar à mistura maior profundidade e complexidade, foram cuidadosamente selecionados dois malts Yamazaki. O Yamazaki de barril de carvalho branco americano harmoniza os componentes Hakushu e Chita e reforça a doçura do whisky de grão. O Yamazaki de barril de carvalho espanhol acrescenta notas amadeiradas e agridoces à mistura. O resultado é uma mistura vívida, bem equilibrada e sedosa, com um acabamento doce e ao mesmo tempo picante.

Suntory Toki permite uma versatilidade excepcional. A expressão pode ser apreciada pura, com gelo, como um highball ou misturada em um cocktail. O highball é recomendado para aqueles interessados em experimentar como o whisky é apreciado hoje no Japão. É uma mistura inteligente de whisky e água com gás sobre uma porção generosa de gelo.

Na década de 1950, o highball era um dos drinks favoritos dos bebedores de whisky no Japão. Os japoneses elegeram este cocktail simples mas elegante como uma maneira refrescante de beber whisky. Desde então, a Suntory tem desempenhado um papel importante no restabelecimento do highball como um cocktail popular para uma nova geração de apreciadores.

Para fazer o highball Toki na adequada proporção japonesa, deve-se encher um copo até a borda com gelo. Adicionar uma medida de whisky. Mexer para resfriar o whisky e o copo. Novamente adicionar gelo até a borda. Colocar três medidas de água gaseificada refrigerada ao longo do lado do copo para evitar a fusão do gelo ou rebentar as bolhas. Adicionar um toque de limão. Apreciar.

NOTAS DE PROVA - Suntory Whisky Toki (43% Alc./Vol 750ml)
Cor: ouro puro.
Nariz: manjericão, maçã verde, mel.
Paladar: grapefruit, uvas verdes, hortelã, pimenta, tomilho.
Finalização: sutilmente doce e picante, com uma pitada de carvalho, baunilha, pimenta branca e gengibre.


Fonte: whiskyintelligence.com


sábado, 23 de janeiro de 2016

Suntory apresenta Yamazaki Sherry Cask Edição 2016


Pode até ter sido uma surpresa que o Yamazaki Sherry Cask 2013 tenha sido nomeado o Whisky do Ano em 2015 pela Bíblia do Whisky de Jim Murray. No entanto, whiskies envelhecidos em barris de xerez é uma constante na carteira da Suntory desde 1924, um ano após a destilaria começar sua construção. Shinjiro Torii, o fundador do whisky japonês, começou a fabricar seus whiskies aproveitando barris de sherry importados do sul da Espanha necessários para misturar o seu famoso vinho doce Akadama. Assim, o barril Sherry foi o primeiro barril utilizado por whiskies da Suntory e desempenha um papel importante na origem do whisky japonês.

Ao longo de sua história de 92 anos, a Suntory conseguiu numerosos tonéis de xerez, garantindo que sua seleção de carvalho espanhol sejam enviadas para as "bodegas" (vinícolas de xerez) para armazenar o Sherry Oloroso. Após três anos de envelhecimento, os tonéis de xerez são enviados de volta para a destilaria Yamazaki da Suntory, pronto para receber o que torna-se o distinto Yamazaki Sherry Cask.

Cascos de Sherry são ao mesmo tempo venerados e temidos. Por seu caráter forte, eles podem facilmente dominar o sabor de um whisky. Os maltes da Yamazaki também podem ser afetados por este xerez. No entanto, no caso do Yamazaki Sherry Cask, são selecionados apenas os cascos em que o delicado equilíbrio da química entre o malte Yamazaki e o xerez do barril podem ser alcançados, reforçando assim o sabor caracteristicamente rico e multifacetado do Yamazaki. O processo de seleção meticuloso do carvalho espanhol, a gestão dos tonéis de xerez e o processo de envelhecimento garantem a premiada qualidade final deste líquido.

A recomendação para este whisky é que ele primeiro seja servido puro para mostrar seu nariz. Por si só, há uma nota superior clara e fresca, uma doçura profunda de passas, elegante e rica. Nota-se a complexidade do líquido e o equilíbrio de maturidade e delicadeza. Servido com gelo, o sabor abre para uma doçura de uva e uma acidez ligeiramente amarga. Quando cortado com água, há uma doçura suave que floresce como maçãs recém colhidas.

Notas de Prova

O Yamazaki Sherry Cask 2016 utiliza o mesmo lote de whiskies que foi usado como base para o Yamazaki Sherry Cask 2013. Estes whiskies amadureceram por mais dois anos. Para esta mistura, adicionam-se vários whiskies de malte raros de barril de xerez, alguns dos quais possuem mais de 25 anos de idade. Uma criação que tem uma riqueza profunda, suavidade e complexidade de sabores.
Cor: marrom escuro, natural.

Nariz: tomates secos ao sol, cravo, cacau.
Sabor: profundo, rico, doce e azedo, chocolate com avelãs.
Finish: longo, amargo, azedo.

Yamazaki Sherry Cask 2016, single malt, é apresentado a 48% ABV e estará disponível no mercado a partir de 1 de fevereiro de 2016. O preço de varejo sugerido é de $ 300,00. Cinco mil garrafas do Yamazaki Sherry Cask 2016 foram produzidas globalmente.


Fonte: whiskyintelligence.com


sábado, 1 de agosto de 2015

Hibiki Harmony, um blend à parte

O whisky japonês está apreciando seu momento ao sol, mas a sua recém-descoberta popularidade está colocando uma pressão sobre os níveis de estoque e, como tal, os whiskies sem declaração de idade são a consequência inevitável. A resposta da Hibiki é o Harmony, um blend de mais de 10 whiskies de malte e de grão.


Os whiskies são das destilarias da Suntory, Yamazaki e Hakushu, e também da destilaria de grãos Chita, que atua como a “liga” da mistura. Um número de diferentes tipos de barril também são utilizados, incluindo mizunara, carvalho branco americano e cascos de xerez.

Hibiki Harmony têm um equilíbrio e pureza excepcional de sabor, normalmente caracterizado por um sabor frutado perfumado, sensação suave na boca e acabamento limpo. Este novo whisky é embalado na mesma garrafa bonita de estilo decanter que vale a pena manter depois que você terminar o conteúdo.


HIBIKI HARMONY, 43%

Nariz: sedutor aroma de damascos, flor de laranjeira e marmelada, reforçado também pelo tempero sutil de canela e cravo. Elegante e sedutor.
Paladar: o frutado generoso continua no palato, com laranjas e damascos em abundância. Há um pouco de tempero picante, mas a fruta macia e suculenta toma conta. Bom equilíbrio e bem trabalhado.
Final: o picante assume a partir do frutado e perdura, juntamente com um pouco de amadeirado.

Bem jovem em comparação com engarrafamentos mais velhos do Hibiki, mas mantém o caráter clássico macio, elegante, de flor de laranjeira e generoso frutado, com um pouco de tempero para facilitar as coisas.


O apreciador estará recebendo muito whisky pelo que pagará. Então, a ordem é esquecer qualquer preconceito que se possa ter sobre engarrafamentos NAS. Esta é uma bebida encantadora e que vale a pena.


Fonte: thewhiskyexchange.com

sábado, 8 de novembro de 2014

Desvendando Nº 14: Kakubin


Em julho passado fui apresentado aos whiskies japoneses quando participei de um evento de degustação em Campinas-SP. A degustação foi promovida por Mauricio Salvi, autor da página no Facebook e Youtube Whisky em Casa, com apoio da Suntory, uma das maiores empresas japonesas especializada em bebidas. Estava presente no evento, inclusive, o presidente da Suntory no Brasil, Sr Tatsushi Yoshida.


Quando se fala em bebidas no Japão, pensa-se quase que imediatamente em saquê. Não é o que acontece na realidade. Embora seja uma bebida tradicional no Japão, a cerveja é muito mais popular. Tanto que, pelo alto consumo, não sobra cerveja para exportação. Já o whisky, antes presente somente em bares e confraternizações, está conquistando cada vez mais público.

Começou com o uso dele em drinques, mas está sendo consumido cada vez mais com água ou gelo. Aliás, esta é uma curiosidade: os japoneses gostam do seu whisky diluído em muita água. E bebem muito.

Kakubin, da Suntory, é o whisky mais consumido no Japão atualmente. Seu blend foi feito pelo fundador da empresa, Shinjiro Torii, em 1937, e a garrafa imita um casco de tartaruga, símbolo da longevidade no Japão. Tem o aroma bastante floral, leve, com leve toque de malte e mel, que se repete no paladar. O acabamento é curto e pouco apimentado. 


Todo o processo de produção é feito dentro das destilarias da Suntory. São armazenados em um tipo de carvalho japonês chamado Mizunara. Como se trata de um blended, e as destilarias japonesas não trocam whiskies entre si, é produzido totalmente com whiskies das destilarias da Suntory. O lado bom disso é que, em sua composição, há whiskies envelhecidos por mais de 20 anos. É também um whisky gourmet, ou seja, combina perfeitamente com a culinária japonesa.

Segundo o Sr Yoshida, os consumidores dos whiskies premium da Suntory são pessoas que já consomem produtos premium ou que estão em busca de novidades. O Kakubin é adquirido pelos que desejam se aventurar no mundo do whisky japonês. É a porta de entrada e um ótimo custo-benefício para os que consomem diariamente.

Curiosidade: Kakubin significa garrafa quadrada e não aparece este nome nem na garrafa nem na embalagem.


O que pude perceber:

Aroma: logo que abri a garrafa senti um aroma de mel, puxando para açúcar queimado. Aroma também de carvalho, amadeirado, com um pouco de álcool. Sente-se também um cheiro de terra molhada. Lembra um pouco o Bourbon, mas não muito adocicado. Há um equilíbrio entre o doce e o enfumaçado. Percebe-se um pouco de manjericão. Com água fica menos encorpado e o aroma do Bourbon se sobressai. Com uma pedra de gelo fica mais fresco, mais perfumado. Sente-se um pouco do cheiro de bala de tutti-frutti.

Paladar: adormece um pouco a boca e dá para notar um pouco do sabor defumado, sutil. Confirma no paladar o aroma do Bourbon e da madeira. Com água fica mais suave, a dormência na boca desaparece. Com gelo aparece o sabor frutado.


Whisky muito bom, de sabor incrível. Posso dizer com certeza que se tornou um de meus blends favoritos. Difícil, no caso dos whiskies japoneses, é encontrá-los. Somente em lojas especializadas em produtos japoneses ou pela internet. E não são baratos. O Kakubin está na faixa dos RS 100,00. Consegui uma promoção e adquiri por R$ 59,90 em um supermercado japonês em minha cidade. Mas vale a pena conhecê-lo.

Os japoneses são bons no que fazem. Quando se dispõem a fazer algo, fazem bem feito. Já demonstraram isso com tecnologia, automóveis e eletrônicos. Agora estão mostrando com o whisky. Não é à toa que recentemente um whisky japonês foi escolhido como melhor do mundo, sobrepujando toda a tradição do whisky escocês.



Kakubin


Blended: Japão Teor Alc 40%


- Aparência: Dourado.
- Olfato: Floral e delicado. Rosas, cereais, flores do campo, mel, especiarias e ligeiros tons enfumaçados.
- Paladar: Delicado. Mel, baunilha, especiarias e frutas cítricas.
- Final: Médio e adocicado. Predomina frutas cítricas e especiarias.
- Conclusão: Um bom blended que mantém a tradição dos grandes whiskies japoneses.






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Fontes: singlemaltbrasil.com.br, hashitag.com.br

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Whisky Japonês

Da terra dos eletrônicos, computadores e carros de alta qualidade, surgem novas oportunidades para o whisky


A história do whisky no Japão adquiriu o brilho de uma lenda de folclore. A chegada de spirits ocidentais no final do século XIX na forma de uma caixa de Old Parr trazida em 1872 pela missão de comércio de Iwakura; a subsequente criação da imitação de spirits estrangeiros em laboratórios japoneses; a fundação da Kotobukiya pelo jovem Shinjiro Tori em 1899; o envio de um jovem estudante de química, Masataka Taketsuro, para Glasgow para estudar química em 1918; a sedução de Taketsuro pela Escócia, seu trabalho como aprendiz na Hazelburn e na Longmorn; sua contratação por Tori-san, que na época selecionava pessoal para a primeira destilaria do Japão dedicada ao whisky em Yamazaki, em 1923; como eles trabalharam juntos e, então, se separaram: Tori fundando a Suntory, Taketsuro fundando a Nikka, que permanecem como os dois pilares da fabricação de whisky no Japão.

Há um pressuposto de que, pelo fato de os japoneses terem aderido ao modelo escocês de fabricação de whisky, o whisky deles é uma cópia. Nada poderia estar mais longe da verdade. Desde o início o objetivo foi o de criar um estilo japonês, que é precisamente o que aconteceu. Também se acredita amplamente que esses são whiskies tecnológicos, feitos em laboratório, desconectados da terra. Mais uma vez, uma crença totalmente equivocada.


O whisky japonês inscreve-se essencialmente na tradição do whisky escocês. As técnicas de produção são praticamente as mesmas e as destilarias japonesas importam maltes da Escócia para as misturas dos seus blends. Mas progressivamente os whiskies japoneses obtiveram a sua própria personalidade, graças à qualidade e à pureza das águas, à presença da turfa no solo de Hokkaido, à alta tecnologia utilizada e à competência humana de alto nível. Este whisky distingue-se pelo sabor limpo e maltado. Na boca é suave e tem um defumado sutil e um certo corpo. Os japoneses saboreiam o whisky juntando-lhe muita água.

O surgimento da indústria japonesa foi consequência do interesse em single malts e da pureza de sabor do whisky japonês. A arte japonesa da destilaria está voltada para a qualidade da produção. As minúcias da produção de whisky, a água, a cevada, os tipos de levedo, o mashing, a fermentação, a destilação e a maturação em diferentes carvalhos, foram investigadas a fundo pelos japoneses. Isso permite às empresas produzir ampla gama de sabores de single malt em uma só destilaria, o que afasta o single malt japonês do modelo escocês. A maior parte dos single malts japoneses produzidos hoje é de blends de malts da mesma destilaria, mas com diferentes sabores.


O whisky japonês não é necessariamente mais leve, mas possui uma clareza de aroma que o destaca. A ausência de uma nota ao fundo de cereal também o diferencia do Scotch, como também o uso do carvalho japonês intensamente aromático. Se o single malt escocês é um riacho correndo pela montanha, com todos os sabores disputando uma posição, o malte japonês é uma lagoa límpida onde tudo é revelado.

Partindo do princípio de que as terras mais apropriadas para destilados ficam em países mais frios do norte, o Japão está no lugar certo. Sua ilha mais setentrional, Hokkaido, é muitas vezes comparada com a Escócia. As paisagens de Hokkaido são muito semelhantes às das Terras Altas escocesas, com reservas de turfa, montanhas e riachos de água fria e pura que correm por rochas de granito. Mas as primeiras tentativas de fabricação de whisky frustraram os japoneses. Não importava que ervas e especiarias usassem, não conseguiam produzir os aromas e sabores autênticos.

O homem que desvendou o segredo do autêntico whisky escocês foi Masataka Taketsuro, o filho de 25 anos de uma família produtora de saquê. Ele frequentou a Universidade de Glasgow e trabalhou por um curto período na destilaria Hazelburn, em Campbeltown, e na Longmorn, em Speyside. 

Masataka Taketsuro
Masataka Taketsuro ajudou a Suntory a estabelecer sua primeira destilaria de whisky e, depois, seguiu adiante para criar sua própria destilaria: a Nikka, em Yoichi.

Tudo começa em 1907, quando Shinjiro Tori, jovem empresário de Osaka, começou a produzir um tipo de vinho. Consta que ele armazenou álcool utilizado na produção dentro de um barril de vinho – e esqueceu. Alguns anos depois, para descobrir o que era aquele líquido, ele provou e acabou percebendo os efeitos do envelhecimento na bebida.

Depois desse episódio, Tori propôs que sua empresa (agora chamada Kotobukiya) fabricasse whisky. A diretoria foi contra, alegando ser impossível fabricar whisky de verdade fora da Escócia ou Irlanda e que a construção de uma destilaria seria muito cara.

Mesmo assim, Tori pesquisou um local no Japão que reunisse as melhores condições ambientais para a fabricação do whisky. Em 1923, foi construída a destilaria Yamazaki nos arredores de Kyoto, cuja água pura foi considerada determinante para o êxito do projeto. Para completar, Tori contratou Masataka Taketsuru, especialista em whisky que estudara na Escócia.

Shinjiro Tori
 Após ser contratado por Tori, Taketsuru cuidou de toda a produção. No país, não havia uma fabrica que fabricasse o alambique. Então ele mesmo construiu. Mas, embora Tori tenha dado carta branca à Taketsuru na produção, não via resultado imediato e, gentilmente, pediu para dar uma certa acelerada, pois gastava-se muito e os produtos não ficavam prontos. Na verdade Taketsuru estava maturando a bebida.

Finalmente, em 1929, foi lançado o primeiro Whisky Japonês, o Yamazaki Shirofuda (ou White Label), um blend do malte da cidade de Yamazaki e destilado de grãos de Osaka. Porém, para os nipônicos acostumados à bebida fermentada de arroz, o novo destilado não agradava. Tori questiona se Taketsuru não havia levado muito à risca o processo de preparo na Escócia. Lembrou que ele estava no Japão e de nada adiantaria se não vendesse.


No mesmo ano, Tori resolve comprar uma fabrica de cervejas de Yokohama e ordenou Taketsuru a assumir a fábrica. Devido à distância e ter de começar a aprender uma nova bebida, não se sentiu à vontade para obedecer.

Em 1933 sem consultar ninguém, Tori vende a fábrica de cerveja por preço muito alto ao da compra, o que irrita Taketsuru por não ser consultado. A partir daí, ele começa a desconfiar das atitudes de Tori. Discutiram também sobre a área de produção dos whiskies. Taketsuru preferia produzir em Hokkaido norte do Japão, mas Tori era contra, devido ao alto custo da logística e querer que o público viesse visitar a fábrica. Além disso, possuíam uma divergência de estilos: enquanto Taketsuro preferia um estilo mais pesado, como o de um escocês turfado, Tori continuou com um estilo mais leve de whisky.

No ano seguinte, março de 1934, Taketsuru, que treinou o filho mais velho de Tori, depois de cumprir o acordo de permanência de no mínimo 10 anos, partiu do Kotobukiyá rumo à Hokkaido e fundou a Destilaria Yoichi em menção ao nome da cidade. Mais tarde mudaria o nome da empresa para Nikka que sustenta até os dias de hoje.


Durante a eterna briga dos dois, timidamente, surgiam outras destilarias como o Hombu em Kagoshima (sul do Japão), Karuizawa em Niigata, e Takara, em Fukushima.

Em 1963, Keizo Saji, filho de Tori, assumiu a presidência da Kotobukiyá e trocou o nome para Suntory, que é a soma de Sun = Sol e Tori, o sobrenome do fundador. Sun Tori = Suntory.



Em 1973, surgiram a Gotemba, criada pela Kirin/Seagram, e a Hakushu, maior destilaria de malte do mundo nos anos 80. A expansão das destilarias japonesas foi tão grande, que para garantir os suprimentos de Scotch para misturar nos blends nipônicos, a Nikka comprou a Ben Nevis na Escócia e a Takara absorveu a Tomatin, então maior destilaria de single malt da Escócia. A Suntory não ficou atrás, comprou Bowmore, Auchentoshan e Glen Garioch, na Escócia, e recentemente a Jim Beam, nos EUA.

Curiosidade: diferentemente das destilarias na Escócia, as japonesas não trocam whiskies para a confecção de seus blends. Cada uma produz uma gama de whiskies com esse fim. A maior parte da produção vai para o mercado interno, e apenas cerca de 3% são exportados para os países do pacífico.

Tive a oportunidade de participar de uma degustação de whiskies japoneses em Campinas-SP em julho passado. Tenho de admitir que eles não devem em nada a seus inspiradores, os escoceses. Ótima qualidade, bem feito, bem acabado. E as garrafas parecem uma obra de arte. Quem ainda não experimentou, experimente. O único inconveniente ainda é o preço. O Japão possui uma política severa quanto à produção de bebidas alcoólicas, os impostos são altíssimos. Some-se a isto o fato de o Japão estar “do outro lado do mundo”, os custos com transporte também são elevados. Chegando ao Brasil, adivinhem: mais impostos e o lucro do importador. Tirando fora estes detalhes, o whisky japonês está num patamar elevado. Vale a pena.




Fontes: o atlas mundial do whisky; whisky; o livro do whisky; whisky de a a y; hashitag.com.br; cladowhisky.com.br; adegadesake.com.br