Whisky

Whisky

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Destilarias norte-americanas ganham mercado com "independência e inovação"

Produzindo gins, bourbons e uísques de centeio de primeira qualidade, destilarias artesanais norte-americanas estão conquistando até os fãs incondicionais dos destilados de malte


Em março de 2011, Michael Vachon, norte-americano que trabalhava em Londres em uma empresa do setor de tecnologia, se encontrava em Austin, no Texas, para o festival South by Southwest, buscando gerar interesse pela nova empresa.
Certa noite em um bar na região dos depósitos, depois de várias horas infrutíferas apertando mãos, ele pediu um coquetel feito com Old Tom, um gim envelhecido em barril de uma nova destilaria no Oregon chamada Ransom. Ele queria muito experimentar, pois novas destilarias norte-americanas como a Ransom eram o tema das conversas nos bares sofisticados que ele frequentava na Grã-Bretanha, mas como elas não distribuíam os produtos por lá, estes se tornavam extremamente raros. A única maneira de conseguir uma garrafa era se um amigo trouxesse uma ao voltar das férias. 
Vachon comprou três garrafas. De volta a Londres, deu-as aos seus barmen preferidos, na esperança de ganhar algumas bebidas gratuitas. "Eles ficaram hipnotizados", contou. Em questão de dias, as garrafas estavam vazias, e seus novos melhores amigos queriam mais. "Tratava-se de um gim norte-americano envelhecido em tonel na terra do gim, deixando as pessoas de boca aberta." Isso o fez pensar.
"Todo dia eu trabalhava num software que ninguém queria comprar e, à noite, levava garrafas desejadas, mas que ninguém conseguia", disse Vachon. Acabou deixando o mundo da tecnologia e, em meados de 2013, fundou a Maverick Drinks, importadora especializada em pequenas destilarias norte-americanas.
No ano passado, a Maverick se tornou um dos principais fornecedores britânicos de destilados norte-americanos finos: uísques artesanais, gins e outras bebidas que usam receitas inovadoras e técnicas de produção para criar novos sabores e estilos. Começando com um fornecedor – e um apartamento que também fazia as vezes de armazém –, Vachon aumentou o portfólio da Maverick para cinco marcas e dobrou o volume; ele não quis revelar os números das vendas.

A Maverick é apenas uma das novas importadoras espalhadas pelo mundo dedicadas aos destilados artesanais dos EUA, cuja expansão de algumas dezenas de destilarias, cinco anos atrás, para mais de 600 hoje, ajudou a reviver o segmento antes estagnado da produção de destilados no país.
A resposta a essa onda de destilados artesanais dos consumidores no exterior foi impressionante. Onde antes a elite de Berlim e Hong Kong poderia ter pedido vodca Grey Goose ou uísque escocês Macallan, agora mais bebedores exigem uísque Balcones, de Waco, no Texas, ou o gim Perry's Tot, em Nova York. "Muita gente está percebendo que existe algo mais no mundo além do uísque de malte", diz Renaud de Bosredon, gerente do bar do Modern American Steak House (Mash), em Londres, que oferece uma das maiores seleções de destilados artesanais norte-americanos na cidade.
"A categoria dos destilados artesanais como um todo está crescendo. Estão surgindo locais em todo canto com grandes cartas de bourbon e uísque de centeio – dois destilados relacionados de perto ao uísque escocês no estilo, mas que, até recentemente, eram difíceis de achar fora dos EUA –", completa Renaud.
A empolgação em torno das destilarias artesanais ajudou a aumentar o interesse pelos destilados do país como um todo. No ano passado, elas exportaram US$ 1,5 bilhão em bebidas, mais do que o dobro da quantidade de 2002, segundo a entidade que representa o setor. Embora a tendência de exportação artesanal ainda seja nova demais para se ter números concretos, as pequenas destilarias indubitavelmente respondem por pouco mais de uma gota desse barril.
Ainda assim, Vachon, entre outros, afirma que as destilarias personificam muitas das qualidades que tornam os destilados dos EUA tão populares no exterior: autenticidade artesanal, independência e inovação.
"SEDE POR DESTILADOS DOS EUA"
Não são apenas as destilarias pequenas que os consumidores estrangeiros acham atraentes. Existem diferenças importantes entre os produtos da destilaria em escala industrial e essas novatas – entre, por exemplo, gins de grandes marcas tradicionais como Beefeater e Tanqueray e os de empresas como a Ransom.

Todo gim começa pela fermentação de um mingau de levedura, água e cereal – embora qualquer coisa com muito açúcar orgânico, como batata ou beterraba, sirva – que depois é destilada para obter uma concentração elevada de álcool. Durante a destilação, o álcool é infundido com um buquê de plantas – principalmente junípero, em conjunto com outros temperos como anis, coentro e elementos cítricos como casca de limão – para conferir seu sabor.
Embora cada destilaria use uma mistura diferente de plantas, ao longo do tempo as grandes marcas tenderam a um conjunto estreito de pimentas e notas florais. O gim norte-americano, por sua vez, aborda todos os sabores possíveis. Alguns, como o Corsair, de Nashville, no Tennessee, vem recheado de laranjas e limões, outros como o Old Tom, da Ransom, que são envelhecidos em tonéis, possuem toque de baunilha e madeira.
Essa paleta de sabores mais ampla é particularmente atraente para uma nova geração de barmen inovadores em cidades que são cruzamentos globais como Londres, Paris e Berlim, que atendem a uma clientela internacional e instruída, além de serem cada vez mais internacionais, dividindo novas receitas com colegas online e frequentando conferências e torneios em outros países.
"Existe muita demanda entre os bares de coquetéis refinados", explica Claire-Adeline Le Prestre, gerente de destilados da La Maison du Whisky, varejista e importadora francesa que vem aumentando rapidamente o portfólio de artesanais, passando a incluir nomes como Ransom e Dad's Hat, uísque de centeio de Bristol, na Pensilvânia.
E num mercado de coquetéis cada vez mais competitivo como Londres, é imperativo ter o destilado artesanal norte-americano mais recente – seja ele bourbon, centeio ou gim. "É como lhes dar uma nova ferramenta. Os clientes podem chegar com a esperança de ver dez gins diferentes. Agora seu bar se destaca. Você está oferecendo uma experiência diferente ao freguês", conclui Vachon.


Fonte: deles.ig.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Dê sua opinião: