Whisky

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sábado, 29 de setembro de 2018

Desvendando Nº 89: Wild Turkey Rare Breed



O bourbon Wild Turkey Rare Breed foi lançado no início da década de 1990 e desde então foram produzidos mais de 10 lotes. Rare Breed é uma mistura de bourbons de 6, 8 e 12 anos, e embora esta mistura de idades não esteja detalhada no rótulo, foi confirmado pelo Embaixador da marca Matt Gandolfo.

A destilaria Wild Turkey usa um único mashbill para todos os seus bourbons. A graduação alcoólica de entrada nos barris da Wild Turkey é relativamente baixa, entre 107 a 115 proof, resultando em uma baixa força de engarrafamento em comparação aos produtos da concorrência.

Rare Breed continua sendo um dos bourbons com a força do barril mais antigos do mercado. Curiosamente, não recebe tanta atenção quanto merece. Isto é possivelmente devido a sua força estar na extremidade inferior do espectro para um bourbon com a força do barril, muito próximo de outras marcas Wild Turkey que podem canibalizar sua própria base de consumidores.


O carro-chefe da empresa é o Wild Turkey 101, considerado com um teor alcoólico alto em relação à sua concorrência e bastante combativo no quesito preço. Tem cerca de 6 a 8 anos de idade e apenas 11 proof mais baixo do que este lote de Rare Breed. Como resultado, não é espantoso saber que o 101 é quase sempre o escolhido quando ambas as opções estão disponíveis.

O Master Distiller Jimmy Russell prefere bourbons entre 6 e 12 anos de idade, uma vez que a bebida já teve tempo suficiente para desenvolver o caráter, mas antes que se torne excessivamente amadeirado. Sendo assim, o Rare Breed oferece um meio de experimentar o bourbon Wild Turkey na sua verdadeira forma. Cada lote, porém, terá características distintas, embora seja de se esperar um início arrojado e picante com um acabamento relativamente complexo e macio.


O que pude perceber:
Características: âmbar escuro, encorpado.
Aroma: amadeirado bem evidente de barris chamuscados, baunilha, caramelo, doce, frutado, algo como laranja. Um pouco floral e cítrico, refrescante eu diria. Chocolate ao leite e um pouco de passas. Um whiskey bem estruturado no aroma. Também nada de álcool evidente, apesar do elevado teor alcoólico. Com a adição de um pouco de água surgiram notas mentoladas, de capim limão, notas herbais e um frutado diferente, desta vez aparecendo uma maçã além da laranja. Chocolate ao leite e baunilha. O aroma ficou bem equilibrado e complexo.
Paladar: chocolate ao leite, baunilha, doce, amadeirado e vai finalizando com um pouco de especiarias, de forma quente. Amanteigado, bastante cremoso. Apesar das especiarias, não deixa dormência na boca e nem há evidência de álcool. Confirmou a boa estrutura demonstrada no aroma. Na segunda vez que experimentei, senti um pouco mais das especiarias, ficando um pouco mais picante. Com um pouco de água ficou uma bebida macia, sedosa, com as notas doces dando o tom e finalizando sempre de forma condimentada, com uma certa picância. Eu diria até mais do que quando experimentado puro.


Whiskey com 56,4% de teor alcoólico, nesta versão, com a força do barril (equivalente aos cask strength dos single malts) em que em nenhum momento se percebe a sua presença. Digo nesta versão pois o teor alcoólico, por ser força do barril, pode variar de acordo com o lote. Envelhecido entre 8 e 12 anos segundo o fabricante. O teor alcoólico alto e o fato de não ser percebido desta maneira foi o que me impressionou neste whiskey.

Concebido para bater de frente com o Jack Daniel's Single Barrel. Na minha opinião bate e derruba. Todavia, bate de frente também com whiskeys de sua própria marca. Como é o caso do 101. Como já foi dito, no quesito custo x benefício, quando estão os dois lado a lado, o 101 entrega tanto quanto o Rare Breed por muito menos.




Wild Turkey Rare Breed

Bourbon (Teor Alc. Variável)

Lançado em 1991, esse rótulo inclui whiskeys envelhecidos de 6 a 12 anos. O aroma e o sabor são impressionantemente suaves para um whiskey de tão alto teor alcoólico. Olfato complexo, inicialmente incisivo, com nozes, laranjas, temperos e notas florais. Mel, laranja, baunilha, tabaco, menta e melado criam um palato igualmente complexo. Final longo, com nozes e centeio apimentado.

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Desvendando Nº 88: Wild Turkey 101



Wild Turkey é uma marca de Bourbon destilado e engarrafado pela divisão Austin Nichols do Grupo Campari. A destilaria está localizada perto de Lawrenceburg, Kentucky. Oferece passeios e faz parte do American Whiskey trail e do Kentucky Bourbon Trail.

Os irmãos Ripy construíram uma destilaria em Tyrone, Kentucky perto de Lawrenceburg em 1869, consolidaram-na em 1905 e retomaram a destilação após a Lei Seca. A destilaria foi comprada em 1952 pelos irmãos Gould. Por sua vez foi comprada pela Pernod Ricard em 1980. Em 8 de abril de 2009, o Grupo Campari anunciou a aquisição da marca e da destilaria da Pernod Ricard.


A marca Wild Turkey foi criada em 1940, quando o presidente da Austin Nichol, Thomas McCarthy, escolheu alguns dos bourbons puros, com 101 proof, dos armazéns da empresa para levar em uma caçada ao peru selvagem (wild turkey). No ano seguinte, seus amigos lhe pediram "um pouco daquele whiskey peru selvagem", e uma marca nasceu.

O rótulo de Wild Turkey carrega uma ilustração vividamente impressa de seu homônimo. Nos EUA, cinco variedades de bourbon geralmente estão disponíveis: 81 proof, 101 proof, Kentucky Spirit, Russell Reserve, e Rare Breed.

O Wild Turkey usa uma porcentagem menor de milho que os outros bourbons do kentucky, com maiores quantidades de centeio e malte para chegar a um whiskey mais encorpado e, em geral, de maior sabor. A receita do mosto e a linhagem de levedura são as mesmas para toda a série Wild Turkey.


A destilação é realizada a um teor relativamente baixo (56 a 57,5%) porque Jimmy Russel compara fazer um grande whiskey a preparar uma boa sopa: se cozinhar por mais tempo a uma temperatura mais baixa, retém melhor os sabores.

Uma influência adicional ao caráter do destilado maturado resulta da colocação do white dog (o new make, destilado claro) em barris fortemente crestados. A crestação pesada contribui significativamente para o sabor assinatura do Wild Turkey.

Hoje o Wild Turkey é destilado sob os olhos atentos do lendário mestre destilador Jimmy Russell e de seu filho Eddie (o primeiro é a quarta geração dos Russell a trabalhar na destilaria e tem 25 anos de experiência).


O que pude perceber:
Características: âmbar escuro, encorpado.
Aroma: apesar de 50,5% ABV, o álcool não é perceptível, desde que o copo não seja agitado. O que predomina é madeira, caramelo, mentolado, baunilha sutil, adocicado. Não há o aroma de milho característico dos bourbons de menor qualidade, o que, a meu ver, só isso já eleva o nível deste whiskey. Maçã, rapadura, bala toffee. Um pouco de condimentos no fundo, um certo toque de especiarias. A adição de um pouco de água o deixou um pouco mais doce, evidenciando a baunilha e o caramelo. O mentolado permanece presente, assim como o frutado. Balas toffee e um certo chamuscado agora são bem evidentes.
Paladar: madeira, caramelo, baunilha, especiarias e menta. Então uma picância vai tomando conta e deixando uma ardência na boca. Nota-se também o amargo do centeio em detrimento do sabor do milho. A finalização é longa, seca e quente, deixando uma sensação frutada. A adição de um pouco de água deixa o whiskey mais macio ao paladar, baunilha e chocolate bem presentes, fica menos agressivo no que tange a picância, mas finaliza da mesma forma, seca quente e com notas de especiarias. A dormência na boca diminui, embora realce a presença do centeio.

Whiskey sem aroma nem gosto de milho e que com seus 50,5% ABV não se mostrou nem um pouco agressivo no quesito álcool. Quanto aos condimentos, é bastante apimentado. Possui uma proporção maior de centeio em sua composição, o que deixa o bourbon menos doce e com estas notas de especiarias. Segundo informações no próprio rótulo, é envelhecido entre 6 a 8 anos em barris de carvalho americano altamente tostados, o que lhe confere a sua cor mais escura e as notas amadeiradas e tostadas.

Apesar do teor alcoólico elevado, é fácil de beber e o álcool não se mostra perceptível. Para mim, precisa somente driblar um pouquinho a sua picância, que achei um pouco elevada, principalmente na finalização. Mas nada que umas gotas de água não resolvam.




Wild Turkey 101 Proof

Bourbon: Teor Alc 50,5%

Jimmy Russel insiste que 50,5% (101 proof) é o teor ideal para engarrafar o Wild Turkey. Essa expressão tem aroma macio, porém suntuoso para um whiskey com teor alcoólico tão alto. Isso se deve em parte aos seus oito anos de maturação. Caramelo, baunilha, frutas macias e um toque picante no olfato. Encorpado, robusto na boca, com baunilha, fruta fresca e tempero, além de açúcar mascavo e mel. Notas de carvalho se desenvolvem no longo final, que ainda é suave.

domingo, 16 de setembro de 2018

Desvendando Nº 87: Laphroaig 10 Anos



A destilaria Laphroaig foi fundada em 1810 por Alexander e Donald Johnston, embora a produção oficial tenha levado cinco anos para começar. A vida ao lado da igualmente famosa Lagavulin nem sempre foi fácil. Houve disputas pelo acesso à água, mas, hoje, o sentimento que prevalece é de respeito mútuo. A Laphroaig é uma das poucas destilarias que mantiveram as maltagens em piso, que suprem um quinto das necessidades da casa. E o fato de existir esse tipo de maltagem torna a visita à destilaria ainda mais interessante.

A Laphroaig sempre apreciou a característica defumada e pungente do seu malte, mistura de cânhamo, sabão carbólico e fogueira. Dizem que seu caráter medicinal intenso é uma das razões pelas quais a bebida estava entre os poucos whiskies escoceses permitidos nos EUA durante o período de proibição. Seu whisky era aceito como spirit medicinal e podia ser obtido por meio de prescrição médica. Sendo o mais medicinal dos malts, remete a gaze hospitalar, faz lembrar antisséptico bucal, fenol. È a personalidade de Islay com a intensidade de algas marinhas e iodo.

Laphroaig significa “a bela depressão junto à baía larga” em gaélico. É feito colocando-se primeiramente de molho a cevada em água sem sais, turfosa de Islay e deixando-se que germine, o que envolve remexê-la manualmente no chão de maltagem por seis dias. A cevada germinada é, então, seca num fogo circulatório de turfa, e a fumaça dessa pungente turfa de Islay é que dá ao Laphroaig sua distintiva característica. Após a destilação, o whisky é maturado em tonéis de carvalho do Kentucky, empilhados nos galpões de maturação no litoral. Aqui ele é banhado pelo vento fresco e salgado do Atlântico, e, em noites de tempestade, sabe-se que o mar entra nos galpões, bem abaixo dos barris. Não é surpresa que o sabor turfoso único do Laphroaig carregue uma forte nota de iodo e acentuado e salgado ar do Atlântico.


Ele é denominado “o definitivo whisky de malte de Islay” porque é a essência do sabor de Islay, rico, defumado, turfoso e cheio de personalidade. O Laphroaig é decididamente um gosto adquirido, partilhado por Sua Alteza Real, o príncipe de Gales, que premiou o Laphroaig com seu Certificado Real em 1994 e encomenda sua própria edição, a ”Highgrove”.

A destilaria possui sua própria reserva de turfa em Islay, floor maltings na destilaria e alambiques relativamente pequenos. Seus depósitos de maturação ficam de frente para o mar. Em 1847 o fundador faleceu ao cair dentro de um barril de whisky. No final dos anos 1950 e início dos 1960, a destilaria pertenceu a uma mulher, a srta. Bessie Williamson. O ambiente romântico das instalações tornaram a destilaria popular para casamentos, e ela serve como salão comunitário do vilarejo. Pertence atualmente à Beam Global, sendo administrada por uma equipe dedicada que deve garantir a ela um futuro brilhante.

Apesar de tudo, muitos acham que o famoso ataque do Laphroaig diminuiu nos últimos anos, revelando um pouco mais da doçura do malte. Mas continua sendo um whisky de forte personalidade, encorpado e untuoso.

Todos os Laphroaig são envelhecidos exclusivamente em barris de carvalho americano, provenientes da Maker's Mark. O resultado é o mais marítimo dos maltes de Islay, medicinal, com toques de iodo, arenque, sala de máquinas e fumaça, mas suavizado pela doçura do carvalho. É esse caráter de baunilha que abranda as notas rústicas do espírito novo e adiciona uma doçura sutil ao espírito maduro.


O que pude perceber:
Características: dourado claro, médio corpo.
Aroma: de início turfa, depois um aroma salgado, marítimo, iodado, a seguir, frutas vermelhas, cristalizadas, algo como passas. A turfa vai cedendo aos poucos e outras nuances vão aparecendo. Baunilha, ameixas, nozes, malte tostado, algas, defumado e tabaco. Dá para perceber vários aromas, bastante complexo. A adição de um pouco de água ameniza um pouco a turfa, ela se esconde um pouco. Evidencia mais o adocicado, o malte e o amadeirado. A doçura é de baunilha e caramelo, o que contrasta bastante com o tom salgado que ele continua apresentando. A fumaça, apesar de amenizada, continua.
Paladar: suave, adocicado, baunilha, bala de caramelo. Em seguida, como contraponto, vem sal, iodo, algas, especiarias e fumaça. Finaliza de uma forma longa, salgada e com bastante fumaça. Com um pouco de água, nota-se algas, iodo, uvas, fumaça e finaliza com uma mistura de malte e nozes.

Whisky bastante equilibrado para seus 10 anos de maturação. Poderia ter uma graduação alcoólica mais elevada. 43% já ajudaria bastante porque com 40% o álcool não é notado. Mais gentil que o irmão Quarter Cask. Excelente whisky.




Laphroaig 10 Anos

Single Malt: Islay Teor Alc 40%

O 10 anos é muito popular. Sob a fumaça densa de turfas e do spray salgado de água do mar está um malte jovem e refrescante, com um coração doce.

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Wolfburn lança sua quarta edição permanente: Langskip



A Destilaria Wolfburn acaba de lançar a sua quarta expressão permanente de single malt denominada "Langskip". Seguindo o sucesso global das expressões Northland, Aurora e Morven, o Langskip é engarrafado com uma porcentagem de álcool muito maior (58%), chegando o mais próximo possível de um engarrafamento cask strength.

A edição foi criada a partir de whisky amadurecido em barris preenchidos em 2013 e 2014. É o lançamento mais envelhecido até hoje. Os barris são todos barris de bourbon de primeiro uso, que fazem um whisky espetacularmente bom. O resultado é um single malt verdadeiramente especial, repleto de sabor.


A expressão mais forte de Wolfburn leva o nome da palavra nórdica para longship, os navios vikings que outrora dominaram a costa de Caithness. Liso, suave, decidido e forte, o legado desses navios circunda a destilaria de Wolfburn. Além de assentamentos e locais de enterro, a cidade natal de Wolfburn, Thurso, foi batizada pelos Vikings em homenagem ao deus Thor.



Fonte: whiskyintelligence.com

sábado, 8 de setembro de 2018

Desvendando Nº 86: Aberlour 10 Anos



Aberlour significa “boca do riacho gorgolejante” em gaélico escocês e situa-se em um local antigo e bonito.

Embora a Aberlour não seja muito conhecida em sua terra natal, tornou-se extremamente popular na França e afirma ser uma das dez destilarias que mais vendem malte no mundo. Como parte da antiga Campbell Distillers, a Aberlour pertence ao grupo francês Pernod Ricard desde 1975. Seu malte é usado em diversos blends, em especial no Clan Campbell. Porém, mais da metade da produção da destilaria é engarrafada como single malt.


A destilaria fica a pouca distância do rio Spey. Sua fundação data de quando James Gordon e Peter Weir construíram uma destilaria na rua principal de Aberlour, em 1826. As instalações resistiram 50 anos até serem devastadas por um incêndio. Uma nova destilaria Aberlour foi construída em 1879, alguns quilômetros rio acima, por James Fleming, que já possuía a Dailuaine. A de hoje é do final do período vitoriano, projetada por Charles Doig depois de o prédio ter sofrido outro incêndio, em 1898.

James Fleming tinha como lema “Let the Deed Show”, algo como “que a proeza apareça” e este lema estampa todas as garrafas de Aberlour.


A sua água, excepcionalmente suave, é extraída de fontes no Lour Glen, tendo fluído através de turfa. O malte é fornecido sob encomenda e é levemente turfoso.

Os whiskies de malte de Aberlour se beneficiaram do uso maior de tonéis de xerez oloroso em anos recentes, o que, combinado com tonéis de bourbon, aumenta a complexidade do whisky.


O que pude perceber:
Características: cor cobre, médio corpo.
Aroma: baunilha, malte, caramelo, doce, suave, sedoso. Um pouco de álcool evidente, mas nada que o prejudique. Amadeirado suave e frutado. Um pouco de especiarias e frutas secas sutis. Condimento leve. Depois de um certo tempo percebe-se algumas notas herbais, de gramíneas. Com um pouco de água, malte, cereais, frutado, terra molhada. O álcool some, fica bem suave e agradável no nariz. Um pouco de gramíneas, desta vez, gramíneas secas.
Paladar: baunilha, caramelo, frutas secas, amadeirado, uma certa picância juntamente com uma doçura e o malte. Finaliza de uma forma média e seca. A adição de um pouco de água faz lembrar ameixas secas, malte, cereais crocantes, frutas cristalizadas. As especiarias agora desaparecem um pouco, ficando mais sutis, mas ainda são percebidas na finalização. O whisky fica melhor equilibrado.

Whisky muito bem trabalhado na junção de dois barris, ex bourbon e ex-xerez que, embora não fale exatamente a proporção, dá para perceber uma maior influência dos barris ex-bourbon.

Na minha opinião, faltou um pouquinho para este whisky ser perfeito, para ser melhor equilibrado e eliminar o pouco de álcool que ainda é perceptível. Talvez mais dois anos de envelhecimento em barris? Um melhor jogo entre as proporções dos tipos de barris? Quem sabe o review do Aberlour 12 anos possa nos dizer.




Aberlour 10 Anos

Single Malt: Speyside Teor Alc 40%

Maturado principalmente em barris que antes continham bourbon, este whisky tem a doçura do caramelo proveniente da madeira, além de um leve sabor de nozes e especiarias.

domingo, 2 de setembro de 2018

Desvendando Nr 85: Elijah Craig 12 Anos



A destilaria Heaven Hill nasceu em 1934, depois da Lei Seca e durante a depressão nos EUA. Um grupo de produtores de whiskey de Boston conseguiu apoio financeiro com os irmãos Shapira, e a destilaria Old Heaven Hill Springs foi construída. A família Shapira simplesmente financiaria o projeto, mas vários anos depois se tornou o único proprietário do empreendimento.

Após a Segunda Guerra Mundial, a empresa passou a criar diferentes edições do whiskey, e o negócio prosperou. Em 1986, assim como outras destilarias, a Heaven Hill passou a se interessar por bourbons de pequeno lote. O primeiro lançamento foi o Elijah Craig 12 Anos, em homenagem ao ministro da igreja Batista e agricultor que já destilava no fim do século XVIII.


O pastor batista Elijah Craig (1743-1808) ficou conhecido como o pai do bourbon. Tem a fama de ser o criador do método de usar barris queimados para guardar e maturar bebidas. De acordo com o folclore do whiskey, ele incentivava a prática de usar barris crestados na maturação. Uma descoberta casual depois de um incêndio, o que levou a um estilo característico que contribuiu para definir o bourbon.

Não existe nenhuma prova de que foi o primeiro a fazer bourbon, mas a associação entre um religioso e o whiskey foi vista como ferramenta útil na resistência aos militantes adversários do álcool. Essa edição que o homenageia é produzida com não mais que 100 barris e pode ser considerada o primeiro bourbon de pequeno lote.


O que pude perceber:
Características: cor âmbar escuro, encorpado.
Aroma: madeira, baunilha e caramelo dá para sentir de longe, sem precisar aproximar o copo do nariz. Bala de leite, adocicado, possui um certo frutado, algo como abacaxi, manteiga, pasta de amendoim. Sensação de algo bem oleoso. No fundo dá para sentir gramíneas, chocolate branco e algumas notas condimentadas trazendo uma pimenta. Com um pouco de água realçam os aromas de madeira, baunilha e caramelo, com chocolate branco presente. Fica um whiskey mais aveludado, equilibrado, redondo. Notas frutadas, mel e agora um toque sutil de cereais.
Paladar: madeira, baunilha, chocolate, mel, depois vai esquentando a boca com especiarias, apimentado, mais um pouco de baunilha e finaliza com um toque herbal. A finalização é longa, demora bastante tempo na boca. Dá para sentir um frutado de maçãs, abacaxi, pera, o adocicado do caramelo e da baunilha, sem ser enjoativo. Depois, picância. Fica um retro-gosto parecido com rapadura, paçoquita. Lembram da pasta de amendoim? Com a adição de um pouco de água, mel, madeira, caramelo, frutas, abacaxi, maçã, rapadura e depois vem a picância que desta vez foi um pouco mais pronunciada, bem forte mesmo, deixando a boca com uma sensação de dormência. Nas especiarias tem algo de gengibre, canela, noz-moscada, o que acaba dando, de certa forma, um equilíbrio em contraste com o adocicado da bebida. A finalização é longa e seca.


Eu o achei um belo bourbon, apesar de deixar a boca bastante dormente na sua finalização. A picância logo passa, mas a sensação é de que a boca fora anestesiada, da mesma forma quando vamos ao dentista. Esta, apesar de um tanto quanto absurda, é uma boa comparação.

Excelente opção para fugir dos bourbons tradicionalmente vendidos, carregados no milho e enjoativamente doces. Este exemplar possui uma proporção considerável de centeio, o que também explica a sua picância.

Os 12 anos de envelhecimento também contribuem sobremaneira para o caráter deste whiskey. Dificilmente encontraremos bourbons maturados por muito tempo, uma vez que o clima dos Estados Unidos faz com que a bebida atinja a maturação mais cedo. Este tempo a mais nos barris fez com que esta bebida atingisse outro patamar na degustação. Nem mesmo o álcool, que neste caso é de 47% ABV, é perceptível.

O tempo fez também acentuar as características do centeio, contribuindo para formar o corpo e o caráter do destilado.

Resumindo, um ótimo bourbon para ser apreciado aos poucos, talvez até acrescentando um pouco de água, para deixá-lo mais redondo, apesar da água ter acentuado sua picância. Ótima pedida também para acompanhar um charuto.




Elijah Craig 12 Anos

Bourbon Teor Alc: 47%

Um bourbon clássico, com aromas doces e maduros de caramelo, baunilha, tons picantes e mel, além de um pouco de menta. Rico, encorpado e arredondado no suave paladar, com caramelo, malte, milho, centeio e uma ponta de fumaça. Carvalho doce, anis e baunilha dominam o final.