“Ame
ou odeie”, dizia um dos slogans para divulgação do Laphroaig
(lê-se lafróig).
A
destilaria Laphroaig foi fundada em 1810 por Alexander e Donald
Johnston, embora a produção oficial tenha levado cinco anos para
começar. A vida ao lado da igualmente famosa Lagavulin nem sempre
foi fácil. Houve disputas pelo acesso à água, mas, hoje, o
sentimento que prevalece é de respeito mútuo. A Laphroaig é uma
das poucas destilarias que mantiveram as maltagens em piso, que
suprem um quinto das necessidades da casa. E o fato de existir esse
tipo de maltagem torna a visita à destilaria ainda mais
interessante.
A
Laphroaig sempre apreciou a característica defumada e pungente do
seu malte, mistura de cânhamo, sabão carbólico e fogueira. Dizem
que seu caráter medicinal intenso é uma das razões pelas quais a
bebida estava entre os poucos whiskies escoceses permitidos nos EUA
durante o período de proibição. Seu whisky era aceito como spirit
medicinal e podia ser obtido por meio de prescrição médica. Sendo
o mais medicinal dos malts, remete a gaze hospitalar, faz lembrar
antisséptico bucal, fenol. È a personalidade de Islay com a
intensidade de algas marinhas e iodo.
Laphroaig
significa “a bela depressão junto à baía larga” em gaélico. É
feito colocando-se primeiramente de molho a cevada em água sem sais,
turfosa de Islay e deixando-se que germine, o que envolve remexê-la
manualmente no chão de maltagem por seis dias. A cevada germinada é,
então, seca num fogo circulatório de turfa, e a fumaça dessa
pungente turfa de Islay é que dá ao Laphroaig sua distintiva
característica. Após a destilação, o whisky é maturado em tonéis
de carvalho do Kentucky, empilhados nos galpões de maturação no
litoral. Aqui ele é banhado pelo vento fresco e salgado do
Atlântico, e, em noites de tempestade, sabe-se que o mar entra nos
galpões, bem abaixo dos barris. Não é surpresa que o sabor turfoso
único do Laphroaig carregue uma forte nota de iodo e acentuado e
salgado ar do Atlântico.
Ele
é denominado “o definitivo whisky de malte de Islay” porque é a
essência do sabor de Islay, rico, defumado, turfoso e cheio de
personalidade. O Laphroaig é decididamente um gosto adquirido,
partilhado por Sua Alteza Real, o príncipe de Gales, que premiou o
Laphroaig com seu Certificado Real em 1994 e encomenda sua própria
edição, a ”Highgrove”.
A
destilaria possui sua própria reserva de turfa em Islay, floor
maltings na destilaria e alambiques relativamente pequenos. Seus
depósitos de maturação ficam de frente para o mar. Em 1847 o
fundador faleceu ao cair dentro de um barril de whisky. No final dos
anos 1950 e início dos 1960, a destilaria pertenceu a uma mulher, a
srta. Bessie Williamson. O ambiente romântico das instalações
tornaram a destilaria popular para casamentos, e ela serve como salão
comunitário do vilarejo. Pertence atualmente à Beam Global, sendo
administrada por uma equipe dedicada que deve garantir a ela um
futuro brilhante.
Apesar
de tudo, muitos acham que o famoso ataque do Laphroaig diminuiu nos
últimos anos, revelando um pouco mais da doçura do malte. Mas
continua sendo um whisky de forte personalidade, encorpado e untuoso.
Todos
os Laphroaig são envelhecidos exclusivamente em barris de carvalho
americano, provenientes da Maker's Mark. O resultado é o mais
marítimo dos maltes de Islay, medicinal, com toques de iodo,
arenque, sala de máquinas e fumaça, mas suavizado pela doçura do
carvalho. É esse caráter de baunilha que abranda as notas rústicas
do espírito novo e adiciona uma doçura sutil ao espírito maduro.
Nesta
edição, a Quarter Cask, o Laphroaig jovem passa por um breve
período de maturação extra em pequenos e novos barris equivalentes
a meias pipas, feitos de carvalho americano. Ao aumentar a proporção
entre madeira e whisky nos sete meses antes do engarrafamento, o
processo de maturação é acelerado. Esta nova versão do malte,
parcialmente maturado em barris de 57 litros, foi a responsável por
recuperar parte da intensidade que os apreciadores procuram. A
baunilha e o teor defumado estão em seu auge.
Minhas
impressões:
Cor:
dourado claro, médio corpo.
Aroma:
fumaça. Bacon. Presunto defumado. Notas de remédios. No fundo, mas
bem no fundo mesmo, dá para sentir um pouco de doçura. Mas o
defumado é o aroma que está sempre presente. Com a adição de um
pouco de água o aroma fica mais suave
Paladar:
começa doce e suave, daí vem a presença do álcool que é um pouco
elevado, 48%, e então, vem a explosão de fumaça, do defumado e
também de notas salgadas. Depois de acostumar um pouco com estas
sensações, começa-se a perceber que também há algumas notas
frutadas. Com um pouco de água ele começa doce, fica cítrico,
frutado, e então volta a fumaça e o teor salgado preenchendo tudo.
Não
o experimentei com gelo. O curioso foi que, assim como havia
percebido com o Benriach Curiositas 10 Anos, a adição de água fez
com que a fumaça se retraisse. Ela ainda está lá, mas bem mais
leve. Interessante também é perceber que, apesar do teor alcoólico
mais elevado, 48%, tanto com água quanto sem, ele não parece ser
tão forte. Você percebe o álcool, mas não incomoda.
No
mesmo dia da degustação, havia comprado uma Copa fatiada como tira
gosto. Adivinhem? Tem o mesmo cheiro e gosto do Laphroaig. Inclusive
tenho um amigo leitor que acompanha o blog que o apelidou de
“porquinho”, por causa do cheiro de bacon defumado.
Deixei
o whisky na taça descansando de um dia para o outro, com uma
tampinha para reter os aromas. Quando removi a tampa no outro dia, o
que senti foi uma explosão de fumaça escapando e, depois, ficando
com um aroma doce. No paladar também ficou mais doce.
Falando um pouco sobre a madeira, no
século 19, o whisky era transportado através da Escócia sobre
lombos de cavalos, utilizando-se para isso de pequenos barris, os
Quarter Cask. São estes mesmos barris que hoje são utilizados para
finalizar a maturação deste Laphroaig, proporcionando um contato com a
madeira 30% maior, acelerando sua maturação.
O
Laphroaig Quarter Cask utiliza whiskies envelhecidos entre 5 e 11 anos com
teor de fenol de 40-43 ppm. Um clássico de Islay para quem curte
whiskies defumados. Rico e complexo, certamente é um exemplar que
todo apreciador deveria experimentar.
Laphroaig
Quarter Cask
Single
Malt: Islay Teor Alc 48%
O
Quarter Cask está no coração da produção principal da Laphroaig.
Barris pequenos aceleram o processo de maturação e causam sabor
doce e amadeirado, que sucumbe à explosão triunfal de turfa
defumada.
Opa, o Porquinho foi o único Laphroaig que degustei até agora. Mas adorei. Agora estou namorando o 18.
ResponderExcluirVou experimentá-lo na degustação em São Paulo dia 29. Nos vemos lá.
ExcluirRealmente muito bem lembrado ,também tive essa impressão de apesar do teor alcoolico de 48% , não incomoda...
ResponderExcluirIsso mesmo Marcos Vicente, desce redondo. Continue acompanhando as postagens. Um abraço.
ExcluirMuito bom o review, parabéns!
ResponderExcluirPreferes este ou o 10 anos?
Obrigado pelas palavras Daniel Mello. Dos dois prefiro a versão Quarter Cask. Acho que a influência do carvalho das barricas menores contribui para o sabor. Um abraço.
ExcluirGrande review Michel Vc presta um valioso serviço ao grupo de apreciadores do Brasil
ResponderExcluirObrigado Wesley. Continue acompanhando. Um abraço.
ExcluirGrande review Michel Vc presta um valioso serviço ao grupo de apreciadores do Brasil
ResponderExcluirObrigado Wesley. Continue acompanhando. Um abraço.
ExcluirEstou bem curioso por um turfado...
ResponderExcluirMas não encontro nada em bares para experiência...
Heliton, poderá começar com o Black Grouse ou mesmo o JW Double Black para experimentar. Acredito que estes possam ser encontrados em bares.
ExcluirTaí uma dúvida, pois não conheço o Black Grouse. Já o JW Double Black eu acho excelente e muito saboroso, porque o malte se destaca e ele fica com pouco gosto de whisky de grãos. O Famous Grouse Finest é leve, bastante suave. Michel, como é o Black Grouse?
ExcluirCesar, o Black Grouse combina aromas frutados e turfados. O paladar é turfado e medicinal, com sabores de especiarias e cereais, mas também tem um fundo adocicado. Muito bom.
ExcluirÓtimo review do exemplar. Traduziu tudo muito próximo ao que senti nele.
ResponderExcluirParabéns pelas excelentes análises!
Obrigado pelas palavras LF Damata. Espero continuar contribuindo. Um abraço.
ExcluirGT hj vou experimentar pela 1a vez. Nunca tomei. É a minha bebida, amo. E o medo de não gostar é maior que a expectativa. Já recebi a alguns dias, mas adiando só por isso
ResponderExcluirMarisa, deixou nós, os leitores, na expectativa e curiosidade. Conte o que achou da experiência, amou ou odiou? Abraço.
ExcluirFoi o primeiro Scotch legitimo que experimentei em 2008. Achei fantástico, pois até então só havia experimentado os nacionais ou os "made in Paraguay" que pareciam álcool puro. Foi então que me explicaram sobre o uso do malte defumado. Sempre que tenho oportunidade adquiro uma garrafa. Aprecio com queijos. Gostaria de saber suas impressões sobre o PX Cask - já experimentou? Abc.
ResponderExcluirLuis, sempre tento manter pelo menos uma garrafa no estoque. Apreciá-lo com queijos é uma boa pedida. Com relação ao PX, como posso dizer, é excelente. A doçura proveniente dos barris de vinho dão um equilíbrio e um sabor espetacular ao Laphroaig. Com a ressalva do preço não apetecer muito. Um abraço.
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