Quanto tempo levou para
que os aromas e os sabores do seu whisky se desenvolvessem? A idade no rótulo,
seja 8 ou 18 anos, conta apenas parte da história. A verdade é que ele passou
um bom tempo num barril de carvalho.
“A madeira faz o whisky”.
É o que se diz na Escócia há muito tempo. Porém, foi apenas ao longo dos
últimos 25 anos que os cientistas descobriram por que o casco (barril, pipa,
tonel) é tão importante. O carvalho é a melhor madeira. A maioria dos cascos é
de Quercus alba (o carvalho branco americano); alguns são feitos de Quercus
robur (o carvalho europeu) e poucos de Quercus mongólica (o carvalho japonês).
O casco de carvalho desempenha três funções vitais: remove asperezas e sabores
indesejados (o chamuscamento tem papel importante nisso); adiciona sabores
desejados (baunilha e coco no caso do carvalho americano); adstringência e
notas de nozes, maçã, damasco e frutas secas no caso do europeu; e, por ser
semiporoso, permite que o spirit “respire” e interaja com o ar para oxidar, desenvolver
suavidade e complexidade e acrescentar características de frutas.
Um pouco de história
Quercus alba (carvalho branco americano) |
O barril já vinha sendo usado para o armazenamento e
transporte de vinhos pelos povos
da Mesopotâmia muitos séculos antes de Cristo. Os romanos começaram a utilizar
barris de madeira por influência dos celtas.
No século II da era cristã era
comum o emprego de barris para o armazenamento de vinho, azeite e água, mas teve
seu uso realmente popularizado na idade
média, quando era usado para estocar líquidos, conservar carnes e
guardar outras coisas como moedas. Durante as grandes navegações era usado para
conservar whisky, rum e
carne em sal. Diferente da água, o whisky e o Rum não criam lodo, o que
permitia aos marinheiros manterem-se hidratados sem contrair doenças. Atualmente,
o armazenamento continua a ser feito em barril, principalmente durante o
envelhecimento da bebida.
Interação com a madeira
Quercus robur (carvalho europeu) |
Grande parte do caráter
de um whisky é desenvolvida durante o envelhecimento da bebida nos barris. Por
isso, o tipo de casco é muito importante.
Durante os anos de envelhecimento, sabores da própria madeira serão
capturados, junto com vestígios de seu conteúdo anterior. Os resultados também serão
influenciados pelo tipo de carvalho com o qual o tonel foi construído.
Os carvalhos são
derrubados apenas quando estão maduros. O ideal é cerca de 100 anos. Nesse
ponto, têm tipicamente de 6 a
7,5 metros
de altura e cerca de um metro de diâmetro. Os troncos são serrados em tamanhos
manipuláveis, prontos para ser transportados até uma tanoaria (ou tonelaria).
Quercus mongólica (carvalho japonês) |
A tanoaria é
uma arte ancestral intimamente ligada às regiões de produção de bebidas,
consistindo no fabrico de vasilhames em madeira para armazenamento. Assim, com as madeiras de carvalho fabricam-se
pipas, tonéis, canecos e outros artefatos, especialmente para o tratamento e
transporte de bebidas. Hoje em dia
é cada vez mais raro encontrar pessoas especializadas nesta
profissão. Porém, no período inicial do século XII, a tanoaria era uma
profissão com um número elevado de artífices.
tanoaria |
As toras são cortadas
em quartos, como enormes fatias de queijo. Em seguida, são serradas em tábuas e
secas geralmente num forno. Se a preferência é pela secagem ao ar livre, elas
são simplesmente empilhadas no pátio. Esse processo de amadurecimento pode
levar meses ou até anos, cerca de 2
a 4 anos. A secagem ao ar livre expele a umidade da
seiva sem fechar os poros da madeira. A partir daí são feitas as aduelas.
secagem ao ar livre |
A palavra inglesa para
aduela, stave, é etimologicamente relacionada a staff, ou seja, bastão ou
bengala. À primeira vista, uma aduela não parece muito diferente de uma simples
tábua. Um olhar mais atento revela uma geometria sofisticada, na qual cada uma
das superfícies é encurvada ou chanfrada. Normalmente são usadas 32 aduelas por
barril, e mais 15 peças para formar as extremidades.
aduelas |
O Quercus robur
espanhol é avermelhado e mais nodoso, e produz aduelas levemente onduladas. O
carvalho branco americano, Quercus alba, produz aduelas mais retas, de
granulação mais grossa, e é mais lento para amadurecer o whisky.
Arcos de metal são
usados para prender as aduelas durante a montagem dos barris, e para enrijecer
o tonel no final. Não se usam parafusos, pregos ou cola, portanto, a bebida não
adquire sabor metálico. As ripas são moldadas e unidas de modo que se acomodem
bem umas às outras. As argolas seguram as ripas no lugar enquanto a madeira é
aquecida, tradicionalmente com fogo, para curvá-la na forma certa.
Mesmo com máquinas de
precisão, o toneleiro é um artesão que precisa de habilidades tradicionais para
criar versões do século XXI de uma das mais antigas formas de recipiente. Ele
deve organizar as aduelas de modo a que se ajustem sem deixar vazamentos; dar a
forma mais correta e elegante; e garantir que os barris tenham a capacidade
adequada.
Às vezes as
extremidades dos barris são pintadas com um código de cores, mas é raro.
Carvalho não pintado respira melhor, o que permite que seu conteúdo interaja
com o ar ambiente, e tem a beleza da madeira natural. Uma passada de lixa realça
essa qualidade, tornando o barril mais atraente e mais fácil de manusear. Leva-se de 45 a 60 minutos para montar um
barril, mas eles se seguem uns aos outros num ritmo de mais de 250 unidades por
turno.
Os barris de bourbon
são queimados ou chamuscados por dentro para permitir que o whiskey impregne a
madeira. A queima provoca transformações químicas essenciais, sem as quais a
bebida não seria maturada, favorecendo a interação do destilado com as
propriedades e os sabores da madeira. As tonelarias americanas costumam
oferecer três graus de chamuscamento: leve, médio e jacaré. Este último é uma
queima mais intensa que deixa a madeira marcada com um padrão que lembra pele
de jacaré. Os cascos de carvalho europeu, em geral, são levemente tostados para
ativar tais transformações.
Depois de todo esforço
para conservar o destilado no barril, é preciso criar maneiras de fazê-lo sair
mais tarde. Para isso faz-se um furinho com uma broca no meio do barril.
Curiosidade: cada
barril é feito preferencialmente com madeira de uma única árvore, garantindo
assim maior uniformidade.
Barris americanos
Por lei, para ser
chamada de Bourbon ou whisky de centeio, a bebida precisa ser maturada, por
pelo menos dois anos, em cascos virgens de carvalho branco, de 200 litros. Os
cascos são reaproveitados para maturação na Escócia e em outros países. Grande
parte dos whiskies escoceses é maturada em cascos de Bourbon. Este barril dá ao
whisky notas como grãos de malte com baunilha, toffee e sabores mais leves de
fruta.
Pipas de xerez
As pipas armazenam 500
litros e normalmente são feitas de carvalho europeu e curadas com xerez durante
um ou dois anos antes de receber o whisky. O barril de xerez confere um nariz
sulfuroso com caramelo, especiarias e frutas secas.
Finalização em cascos
Ultimamente, este
processo vem sendo bastante usado na Escócia. É o processo pelo qual o whisky é
envelhecido em um barril e depois depositado em outro para os últimos 12 ou 24
meses de sua maturação. O “último casco” costuma ser de vinho, xerez ou, como no
caso do single malt Quinta Ruban da destilaria Glenmorangie, de vinho do Porto.
A Lagavulin possui a sua versão, a de vinho Pedro Ximenez. Há outros tipos
também, como vinho madeira, marsala, oloroso, e por aí vai. Este processo imbui
o whisky com parte do caráter do tonel.
Este
post mostrou a construção de um barril e o que ele pode emprestar e
interagir com a bebida de uma maneira geral. Falaremos ainda mais detidamente sobre a contribuição
de cada um dos tipos de barril e também mostraremos uma matéria falando especificamente
sobre finalização em cascos. Abaixo, um vídeo que mostra todo o processo de construção do barril. Até a próxima.
Fontes: o livro do
whisky, whisky de a a y, wikipedia, mauoscar.com
Maravilha de explicação! Muito bom!!!
ResponderExcluirObrigado Apreciadores de Whisky, continue acompanhando.
ExcluirAcredito que o whisky escoces é mais antigo que o americano. Como se deu o uso dos barris de bourbon na escócia ? Antes disso, na escocia, eram maturados em barris de que ?
ResponderExcluirObrigado
Os whiskies escoceses nos primórdios eram envelhecidos em barris de vinho jerez, com barris de carvalho europeu provenientes da espanha. Com o advento da segunda guerra, quando os soldados americanos levavam seus bourbons para o campo de batalha, os escoceces passaram a se interessar por este tipo de barril. Em 2001, com a proibição da venda de jerez à granel, os barris europeus ficaram muito caros, o que causou ainda mais a procura por barris de bourbon.
ResponderExcluirOlá, por que os barris são encurvados ou chanfrada?
ResponderExcluirA leve curvatura dos barris permite que a madeira fique com os poros mais abertos, facilitando a passagem de oxigênio. Permite também ser melhor conduzido nos trilhos de transporte dos barris. Abraço.
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