Whiskies com e sem declaração de idade
Passe algum tempo no mundo do whisky e você demonstrará
certos sinais de ser um aficionado por whisky amadurecido. Porém, deve-se compreender
que nem preço nem declaração de idade são garantia de qualidade. Ainda
assim, mesmo para o bebedor experiente, uma declaração de idade pode servir
como um sinal de valor, ou ponto de partida, para a definição de expectativas,
especialmente se você não teve a oportunidade de provar o whisky em questão. Ou
pelo menos era o caso, antes de marca após marca começar a retirar as declarações
etárias de seus rótulos. E essa é a tendência.
Discutindo o processo de envelhecimento de whisky observa-se como idade e maturação podem ser coisas muito diferentes.
A cada prova de whisky pare para pensar sobre isso, não em termos de quão velho
ou de onde vem, mas onde em um mapa de sabores e características ele pertence.
O que o processo de maturação leva a um whisky? Ou
melhor, o que ele traz? Sabores derivados da madeira como baunilha e carvalho.
O que tira? Enxofre, crueza, imaturidade das notas. E o que muda com a
interação com o barril? Um whisky que passa muito tempo em carvalho pode
ficar rançoso ou ficar dominado pelo gosto da madeira, perdendo o caráter que
poderia ter trazido com ele quando ele foi para o barril. Muito pouco
tempo? O whisky sairá afiado e excessivamente adstringente, cru e desagradável.
Em um painel dedicado a promover a causa da não
declaração de idade (NAS-No Age Statement) nas garrafas, os resultados não
foram surpreendentes. Os dois whiskies mais antigos (um Cardhu 30yo, descrito
como um rum lamacento e um reservado Speyside 42yo de 1966, comparado com uma
mistura de maçã com urina) foram os piores, enquanto os favoritos acabaram sendo
o mais novo, Dufftown 4yo, que lembrou do sabor costeiro de Old Pulteney, e um
que não foi um single malt ou uma mistura, mas o NAS Haig Clube, whisky
single grain. Também fizeram parte do painel o Caol Ila Moch, o Talisker 57
graus norte e Johnnie Walker Red Label.
Uma vez que as declarações de idade têm sido coisa dos
últimos 20 anos, e dado que 75-80% do whisky no mercado já não tem uma
declaração de idade, por que estamos tão obcecados com ter declarações de idade
nas garrafas?
As empresas de whisky nos ensinou a ser
assim. Não são consumidores que colocam as idades em garrafas. As empresas
bateram tanto na cabeça com declarações de idade, de whiskies premium mais
velhos, mais velhos e mais caros. E agora eles estão tentando nos
convencer de que idade não é uma garantia.
O que deixa os consumidores em um dilema:
há qualquer coisa no rótulo de uma garrafa que garanta que tipo de
whisky o consumidor irá encontrar? Mesmo a região, nesta época de maltes de
Islay não turfados e expressões Smokey Speyside? Não se pode depender somente de
pistas.
No Brasil não há degustações nas lojas, e muito
poucos são os eventos especiais para que o consumidor tenha uma boa chance de
provar o que está interessado antes de comprar. Então, estamos convidados
a abandonar idade, não ter certeza sobre a região, pagar um preço mais elevado,
e receber menos garantias das marcas.
Muitos consumidores estão irritados com esta “falta
de idades”. As marcas dizem simplesmente que é porque eles estão correndo
contra o aumento da demanda na Ásia (embora com a recente repressão aos bens de
luxo na China, já impactando a Diageo, isso pode mudar), e que a adesão às
regras de uma declaração de idade significa, por vezes, não serem capazes de usar
um whisky mesmo que já esteja maduro.
Já os consumidores, sentem-se como sendo solicitados
a pagar mais por menos informação, como uma cortina de fumaça para as empresas
aumentar o lucro com a venda de whisky mais jovem por um preço maior.
Provavelmente todas estas coisas sejam verdadeiras,
e que, no final, haverá algum tipo de ato de equilíbrio (geralmente em favor
das marcas) entre idade e NAS, e que, se whiskies ruins começarem a aparecer, os
consumidores irão reagir. Seja qual for o caso, uma coisa é clara: as
coisas não voltarão a ser do modo como eram doze, quinze, 18 anos atrás -
embora possa estar indo de volta para a forma como foram quarenta ou cinquenta
anos atrás.
É um assunto complicado e um debate que acontecerá
muito daqui para frente. Mas que deve ser travado de bom humor e, de
preferência, enquanto acompanhado por bons spirits.
Fonte: alcoholprofessor.com
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